Apesar do cancelamento da visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China,a ex-presidente Dilma Rousseff viajará a Xangai para assumir formalmente o cargo de presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
Dilma havia sido indicada por Lula ao cargo e eleita como presidente da instituição financeira criada pelo BRICS, o bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A ex-presidente começará a despachar da sede do banco e vai se mudar para Xangai, mas a cerimônia de posse, antes prevista para o dia 30 de março, foi cancelada.
A ideia é que a solenidade seja organizada para coincidir com a visita de Estado de Lula ao presidente chinês, Xi Jinping. Os dois governos trabalham numa nova data, mas há expectativa que aconteça em maio.
Integrantes do governo e empresários do agronegócio brasileiro sugeriram que Lula faça a viagem perto do dia 18 de maio para aproveitar uma feira de alimentação local, a SIAL, que costuma ter a presença de Xi Jinping.
Lula poderia emendar a visita de Estado à China com a ida à cúpula do G7, no Japão. Mas diplomatas avaliam potenciais sensibilidades chinesas e a disponibilidade na agenda do presidente do país.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou a proposta da viagem em maio, mas disse que agora a nova data depende de uma decisão da China.
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Agenda segue mesmo sem Lula
A viagem de Dilma foi confirmada à reportagem por diplomatas, assessores da ex-presidente e integrantes do governo Lula. O embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Galvão, viajará a Xangai para recepcionar Dilma e auxiliar nos trâmites iniciais. Ela começa a trabalhar imediatamente.
Conforme integrantes do governo, era possível que Dilma viajasse à China com a Força Aérea Brasileira (FAB), a bordo do maior avião da frota, um A330 que vai ser deslocado de Brasília para buscar servidores do Itamaraty e da Presidência da República. Eles haviam viajado antecipadamente para preparar a visita de Estado de Lula, cancelada de última hora.
O próprio NDB, porém, paga a seu quadro de funcionários viagens internacionais na contratação, além de um subsídio para instalação em Xangai. Como mostrou o Estadão, o banco acelerou os processos internos e elegeu Dilma por unanimidade na última sexta-feira (24).
Como funciona o Novo Banco de Desenvolvimento
O governo Lula promoveu uma intervenção no comando do banco dos BRICS.
O mandato do presidente é rotativo, num esquema de revezamento de membros indicados pelos governos dos países participantes.
O diplomata e economista Marcos Troyjo, indicado pelo governo Jair Bolsonaro, deixou o cargo na semana passada, para abrir caminho para a mudança, em comum acordo com o governo Lula, por divergências de posições.
É a primeira vez que o governo faz uma intervenção desse tipo no banco. Ela desagradou diplomatas ligados à direção da instituição financeira e foi vista como um gesto político para reabilitar Dilma, que havia recusado outros cargos no exterior quando sondada.
A volta de Dilma à vida pública
A eleição marca o retorno de Dilma a um cargo público, após ter sido destituída pelo Congresso Nacional. Dilma não voltou a exercer cargos políticos e passou apenas a participar de palestras, debates e discussões acadêmicas e partidárias.
A ex-presidente foi cassada sete anos atrás num contexto político de perda de governabilidade, durante as investigações da Operação Lava Jato, acusada formalmente ter cometido "pedaladas fiscais", uma manobra para maquiar as contas públicas.
Dilma deve ganhar em torno de US$ 500 mil por ano. O valor exato não foi divulgado, mas pessoas com passagem pela gestão do banco dizem que é um valor parâmetro pago pelo Banco Mundial.
O banco dos Brics foi criado após reunião de cúpula dos chefes de Estado, realizada em Fortaleza, em 2014 — justamente quando Dilma exercia mandato como presidente.
Uma das intenções era ampliar fontes de empréstimos e fazer um contraponto ao sistema financeiro e instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Atualmente, a carteira de investimentos é da ordem de US$ 33 bilhões.
*Com informações do Estadão Conteúdo