O fato de Luiz Inácio Lula da Silva estar fora de combate para tratar de um quadro de pneumonia e influenza A o impediu de ir até a China, mas não de mandar mensagens duras de seu governo — dessa vez os porta-vozes foram os ministros do petista.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, por exemplo, voltou a afirmar nesta segunda-feira (27) que o novo arcabouço fiscal vai estabilizar a dívida pública brasileira, zerar o déficit fiscal e ser socialmente comprometido com o Brasil.
Tebet disse que a "moldura" do arcabouço já está pronta e que agora a decisão é política, do presidente da República.
"No arcabouço fiscal, nós temos como meta, até o final do próximo ano, que possamos zerar o déficit. A gente zera o déficit de duas formas. Aumentando receita sem aumentar imposto. Isso já está acontecendo. E com reonerações. E sobre a ótica de qualidade de gastos públicos, de corte de despesas desnecessárias ou de políticas pública ineficientes. Nós temos dois anos para chegar nessa meta que é totalmente possível", disse a ministra.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, também falou sobre a nova regra fiscal. Ao ser perguntado hoje se há algum dispositivo que o impede de se tornar suscetível a manobras que o enfraqueçam como ocorreu com o teto de gastos, fez questão de separar a regra dos parâmetros.
“Você precisa mostrar ao mercado e à sociedade o seu comprometimento em buscar o resultado fiscal que vai permitir uma trajetória bem mais comportada da relação dívida/PIB, mas simultaneamente mostrar não passar uma relação que vai ter em algum momento um regime que funciona por exceção”, disse.
Tebet falou que um tema caro a Lula
Outro tema sensível a Lula foi tratado por Tebet hoje: a taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano.
Segundo ela, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) da última quarta-feira (22) apresentou um tom "errado" e trouxe um recado equivocado para a equipe econômica do governo Lula.
"Quero repisar a questão de ter achado que o documento saiu no tom errado. Como é um documento político, eu tenho a liberdade de me posicionar sobre ele. Acho a discussão [sobre o assunto] saudável, temos que quebrar tabus", afirmou.
A ministra também avaliou que o colegiado "esticou a corda" no texto.
"Quando o Copom vêm dizendo que 'não exitaremos em' [no texto do comunicado], pode até ter querido sinalizar para o mercado de que são independentes, de que não vão ceder ao jogo político, mas, acredito que não precisavam ter esticado a corda como esticaram porque também mandaram um recado equivocado, a meu ver, para a equipe econômica e para o núcleo político ou para a política brasileira", afirmou a ministra.
Tebet disse ainda que comentou o tema com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
"Respeito o presidente do BC e fiz esse comentário a ele, e ele comentou assim: ‘Simone, sempre foi assim’ e ‘esse sempre foi assim’ não me agrada, porque [se] sempre foi assim, em determinado momento, não deve ser assim", disse Tebet.
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Fala, Padilha
O ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também falou de banco central hoje — especificamente sobre os novos diretores a instituição.
Segundo ele, os nomes ainda não foram “totalmente” definidos, mas há expectativa para os próximos dias.
"À medida que os nomes forem definidos por Haddad e anunciados por Lula, não terá dificuldade de marcar sabatina”, afirmou o ministro a jornalistas, acrescentando que “se tem alguém que sabe escolher bem presidente e diretores do BC é Lula”.
“Só pode vir coisa boa dessa dupla Haddad e Lula na definição dos nomes do Banco Central”, afirmou.
Silveira e a privatização da Eletrobras
Outro assunto sensível ao governo petista foi trazido à tona pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ele afirmou hoje que o governo tem "todo direito" de fazer uma discussão em relação à privatização da Eletrobras.
Para Silveira, o modelo adotado no processo foi "injusto", mas que, como ministro da área, deve tratar a empresa com a natureza jurídica atual, cobrando plano de investimento e assistência à população.
Em declarações recentes, Lula sinalizou que pretende, se houver condições, reestatizar a Eletrobras, afirmando que o que foi feito na empresa foi um "crime de lesa-pátria". A empresa foi privatizada no ano passado, ainda na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A saúde de Lula e a viagem à China
Foi Padilha, que é médico, que trouxe notícias de Lula: "Lula continua muito bem em sua saúde, evolução muito positiva", disse o ministro.
Ele detalhou que, desde sábado (25), a medicação recebida pelo presidente é por via oral: "Recuperação ótima".
O ministro afirmou ainda não ter uma nova data definida em relação à viagem de Lula à China, adiada pelas questões de saúde do presidente.
"Vão trabalhar uma nova data de recepção do presidente Lula", declarou, afirmando que há muito interesse do país asiático em receber o chefe do Executivo brasileiro.