Em meio à discussão entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Roberto Campos Neto, chefe do Banco Central, na quarta-feira (22), o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%.
Estável em 13,75% ao ano desde setembro de 2022, esta foi a quinta vez seguida que o Banco Central manteve a taxa inalterada no patamar atual.
A dúvida que pairava entre os agentes do mercado era se o BC deixaria a porta aberta para eventuais cortes na Selic já em maio, na próxima reunião do Copom. Campos Neto parece não ter pressa e não deu indícios de um eventual ciclo de alívio monetário já no primeiro semestre deste ano.
No episódio #37 do Market Makers, Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central, e um dos gestores da estratégia macro da XP Asset, Bruno Marques, explicaram a reação dos mercados à Super Quarta.
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O Banco Central errou?
Após as decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, o Ibovespa encerrou o dia no menor patamar do ano até então, em queda de 0,77%, aos 100.220 pontos.
O desempenho da bolsa levantou a questão: o Copom errou na manutenção da taxa? Se o Banco Central tivesse sido um pouco menos cartesiano e mais equilibrado diante dessas condições extraordinárias, se a comunicação do BC fosse diferente, a reação dos mercados teria sido diferente?
Para o ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon, a resposta é clara. “Eu não tenho sombra de dúvida de que muito dessa queda é em função de uma decisão que é fundamentalmente ruim. E o mercado está te dizendo isso.”
Ouça a conversa na íntegra:
Roberto Campos Neto se precipitou?
Na visão de Bruno Marques, gestor da XP Asset, apesar de o Banco Central poderia ter demonstrado mais “jogo de corpo” nas falas sobre o risco de retomar a escalada de juros no futuro, o BC tem uma questão de desancoragem de inflação muito relevante.
“Eu acho que o Banco Central deveria comprar um tempo para ver a extensão das coisas. Quando você está numa névoa muito grande, você diminui a velocidade do carro. Eu acho que é isso que tem que ser feito, é preciso esperar para ver para onde as coisas vão”, afirma Marques.
“Eu achei que foi um erro o Banco Central manter a frase sobre a alta [dos juros]. Apesar de concordar com tudo o que estava escrito antes, acredito que isso gera um alvo na testa do do Roberto Campos e estressa um pouco a relação [com o governo].”
Em conversa com os apresentadores Renato Santiago e Thiago Salomão, o ex-BC Tony Volpon ressalta a precipitação de Roberto Campos Neto e do Banco Central como um todo.
“Não é momento de você tomar um cenário como sendo central e muito provável — mas foi isso o que o Copom fez ontem.”
“É uma distinção entre um Fed [Federal Reserve, o BC dos EUA] que viu uma mudança de situação e incorporou isso na decisão e o Banco Central, que vê o que está acontecendo e não incorporou de forma alguma.”
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