O presidente Jair Bolsonaro fez duas declarações impactantes no domingo, em entrevista à Rádio Bandeirantes, e, deliberadamente ou não, botou os dois ministros mais destacados do seu governo - Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Paulo Guedes (Economia) - numa saia justa.
Sobre Sérgio Moro, o presidente declarou, pela primeira vez, que assumiu com o ministro da Justiça o compromisso de indicá-lo para a próxima vaga disponível no Supremo Tribunal Federal (STF). A próxima vaga, pela ordem natural de substituições, será a do ministro Celso de Mello que se aposenta em novembro de 2020.
Sobre Paulo Guedes, Bolsonaro afirmou que já orientou o ministro a corrigir pela inflação a tabela do Imposto de Renda, pelo menos a de 2020, conforme noticiado no fim de semana.
Moro inicia a semana sob inesperada pressão que pode comprometer seriamente sua imagem. O presidente, com sua declaração, sugere que Moro firmou com ele um acordo quando ainda era a figura central da Operação Lava Jato.
Essa condição pode enfraquecer o ministro em negociações com o Congresso sobre o pacote de medidas anticrime. Afinal, o presidente da República praticamente deu um “dead line” para o seu papel de titular da Justiça ao afirmar que será indicado para a vaga do STF que será aberta em um ano e meio.
Quanto ao ministro da Economia, o presidente parece ter antecipado uma decisão que será vista como populista ou imprevidente por parlamentares por estar sinalizando uma redução de receita futura.
As declarações de Bolsonaro podem até não ter maiores consequências, mas não são indolores aos dois principais ministros do seu governo e coincidiram com uma piora global dos mercados em função de novas provocações de Donald Trump contra a China.