Os ativos financeiros locais iniciam o dia com boas perspectivas de manter a valorização da véspera diante da expectativa de leitura mensal próxima da estabilidade do IPCA-15, o índice preliminar do IBGE para a inflação oficial no Brasil.
No entendimento dos agentes do mercado financeiro, um resultado fraco do IPCA-15 teria o potencial de induzir o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a ser mais “ousado” em sua próxima reunião, marcada a próxima semana, e talvez cortar o juro em 0,50 ponto porcentual. A aposta majoritária entre os investidores no momento é de um corte de 0,25 ponto porcentual em 31 de julho.
A expectativa de um corte mais ousado na Selic tende ganhar força caso o governo emplaque sua mais recente sugestão referente à liberação do saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), limitando-o a R$ 500 por trabalhador.
A ideia original era autorizar saques de 10% a 35% do saldo do FGTS, inclusive dos trabalhadores da ativa, mas a pressão dos empresários do setor de construção levou o governo a recuar, uma vez que os recursos depositados no FGTS servem de lastro aos empréstimos para moradia.
No novo formato, o varejo ainda deve se beneficiar e as empresas de construção não serão tão afetadas, mas o impacto sobre o PIB será bem mais tímido, o que aumenta a pressão sobre o Copom para cortar juro. O anúncio oficial é esperado para amanhã.
Pibinho à vista
O objetivo de curtíssimo prazo do governo parece ser induzir uma melhora no sentimento dos empresários na virada do semestre, já que a economia brasileira provavelmente retornou à recessão técnica no segundo trimestre, com duas quedas seguidas, e mais R$ 1,442 bilhão foram contingenciados pelo governo.
Somada à reforma da previdência e outras medidas econômicas em discussão, a liberação do FGTS tem o potencial de melhorar o clima para que o primeiro ano do governo Jair Bolsonaro termine com o PIB pelo menos no azul, ainda que marginalmente.
Enquanto isso, diante da ameaça de uma nova greve de caminhoneiros, o governo suspendeu ontem a nova tabela de preço mínimo do frete rodoviário apenas alguns dias depois de sua publicação.
Também é prudente acompanhar hoje a presença de Bolsonaro na inauguração de um aeroporto em Vitória da Conquista, na Bahia. Na semana passada, o presidente foi flagrado proferindo comentários preconceituosos contra governadores nordestinos. Ainda que se trate de um evento fechado, com convidados escolhidos a dedo, o presidente pode ver algum teste a sua já baixa popularidade.
No exterior, enquanto um acordo bipartidário afasta o fantasma do fechamento do governo nos Estados Unidos, notícias de que o encarregado de negócios norte-americano (USTR) Roberto Lighthizer e o secretário de Tesouro Steven Mnuchin viajarão na semana que vem à China para retomar as negociações comerciais entre Washington e Pequim levaram as bolsas de valores asiáticas a fecharem em alta. Na Europa, os índices de ações abriram no azul e os indicadores futuros de Nova York também sinalizam alta.
O risco Trump
A perspectiva de afrouxamento monetário como maneira de estimular a economia ou precaver-se contra riscos está longe de ser uma exclusividade brasileira. Os principais bancos centrais do planeta preparam-se para cortar juro. A decisão de política monetária do Banco Central Europeu será conhecida já nesta quinta-feira, enquanto o Federal Reserve dos Estados Unidos se posicionará sobre o tema na próxima quarta-feira (31), apenas algumas horas antes do Copom.
Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, direcionou sua hostilidade ao Fed. Ele acusa a autoridade monetária do país de fazer os norte-americanos pagarem juros altos demais e recorre a sua conhecida truculência para coagir a direção do Fed a agir logo. A preocupação de Trump, no entanto, é muito menos os juros pagos nos EUA e mais a abertura de espaços para elevar gastos e estourar ainda mais o endividamento do governo.
Não custa lembrar que o presidente do Fed, Jerome Powell, deixou claro em seus mais recentes depoimentos perante o Congresso que, apesar de os indicadores econômicos se encontrarem níveis considerados saudáveis, as principais razões por trás de qualquer discussão de corte de juros neste momento nos EUA são a política de guerra comercial de Trump contra o mundo e o descontrole nos gastos do governo.
Ou seja, com ou sem a truculência verbal do presidente, o risco Trump forçará um relutante Fed a cortar juros mais cedo ou mais tarde.
Brexit sem acordo?
E como se Trump já não fosse um fator de risco suficiente, o presidente norte-americano deve ganhar ainda esta semana a companhia do ex-prefeito londrino Boris Johnson no panteão dos chefes de governo descompensados da atualidade.
Ardente defensor do Brexit, Johnson tem tudo para tornar-se o escolhido do Partido Conservador para suceder Theresa May e tornar-se primeiro-ministro do Reino Unido. A esperada vitória de Johnson aumenta o risco de um Brexit sem acordo entre Londres e Bruxelas.
Boris Johnson tem a concorrência do atual secretário de exterior, Jeremy Hunt. Analistas consideram que uma eventual vitória de Hunt reduziria ao menos as chances de o Reino Unido sair da União Europeia sem acordo, valorizando a libra esterlina e outros ativos britânicos, mas a probabilidade de que isso aconteça é considerada baixa.