Bom dia, investidor! Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, já estão em Buenos Aires para a cúpula do G‐20, mas o encontro dos dois será no sábado à noite. É grande a expectativa por um acordo que possa reduzir as tensões comerciais entre os dois países.
A guerra das tarifas aumenta os receios com a desaceleração global e mantém os mercados na defensiva, inclusive aqui. O presidente americano joga duro, até o último minuto. Apostar em um resultado parece ser arriscado. Ontem, Trump voltou a ameaçar com a retórica protecionista e, já pela manhã, foi ao Twitter dizer que os EUA estão enchendo os cofres com as tarifas cobradas e que, se Pequim não quer pagar, “que fabrique aqui”. Mais tarde, antes de decolar à Argentina, disse estar “aberto” a um acordo com a China, “mas não sei se quero fazer”, porque “honestamente gosto do que temos agora (...) bilhões e bilhões de dólares com tarifas”.
Pode ser teatro, porque fontes da Dow Jones garantem que EUA e China estão buscando um entendimento. Os dois países estariam explorando a chance de Washington suspender novas tarifas até o final da primavera (no Hemisfério Norte), em troca de diálogos em torno de grandes mudanças na política econômica de Pequim.
A reunião de dois dias do G‐20 começa sob um forte esquema de segurança e coincide com o momento de apreensão com o ritmo de crescimento global, embora o presidente dos banco central americano (o Federal Reserve), Jerome Powell e a ata do FED aliviem a pressão. O presidente Michel Temer e o ministro da fazenda, Eduardo Guardia já estão na Argentina. O presidente dá entrevista às 18h. O novo governo não mandou ninguém.
A recessão na espreita
As turbulências com a China, combinadas ao ciclo de normalização monetária do FED, deflagram o sentimento de que os EUA estejam próximos de entrar em um período recessivo. Ontem, dados fracos endossaram a percepção de risco, com o núcleo da inflação do PCE (+1,8%) abaixo da meta do FED (2%). As vendas pendentes de imóveis caíram 2,6% em outubro. Previsão era de aumento de 0,3%.
Após os dados, o JPMorgan projetou que o risco de recessão nos EUA no intervalo de um ano subiu de 32,3% para 33,3%. De seu lado, a S&P elevou sua previsão para a faixa de 15‐20%, contra 10‐15% anteriormente.
Hoje, entre os indicadores nos EUA, o índice de atividade industrial de Chicago, elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) sai às 12h45 e deve recuar para 58 em novembro, de 58,4 em outubro. Ao meio‐dia, o FED boy John Williams participa de painel sobre a desaceleração da economia global.
Ata confirma Powell
Divulgada no final da tarde, a ata da última reunião de política monetária (FOMC) mostrou os FED boys inclinados a considerarem que o juro nos EUA já está em níveis próximos de neutro. O documento reiterou a posição suave de Powell na véspera, reforçando as novas expectativas de que o ciclo de aperto pode durar menos. O juro ainda subirá em dezembro, mas não mais três ou quatro vezes em 2019, como foi dito.
A ata melhorou o ânimo em Wall Street, embora a reação tenha sido inibida pela cautela antes do G‐20. “Powell preparou o trenó para um rali de Natal, mas continuamos céticos de que a reunião entre Trump e Xi Jinping coloque a relação dos dois países de volta aos trilhos”, disse o Nomura em relatório a clientes.
Assim, depois de ensaiarem alta, as bolsas em NY fecharam negativas, com o Dow Jones em baixa de 0,11%, o S&P 500 com queda de 0,22% e o Nasdaq, com menos 0,25%.
Na Bovespa
A torcida pelo rali de Natal levou a bolsa à máxima histórica no fechamento, a 89.709,56 pontos, embora com alta moderada de 0,51%. Mesmo sem o estrangeiro, que continua saindo, o investidor quer ver os 90 mil batendo na tela. Na máxima, quase chegou lá, aos 89.909,58 pontos, mas, sem a ajuda de Petrobras (baixa de 0,83) e de Vale (queda de 0,57), ficou difícil.
Cessão vagarosa
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), responsabilizou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, pelo impasse em torno do projeto de revisão da cessão onerosa da Petrobras, que estava previsto para ser votada nesta semana. Eunício disse que toda a "resistência" à partilha do bônus com Estados e municípios vem de Guardia e que o ministro estaria negociando diretamente com o Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo Eunício, Guardia, “que quer guardar o dinheiro para a regra de ouro”, mas o fato é que mesmo o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes está convencido de que o repasse aos Estados compromete o teto de gastos.
Eletrobras
As ações da Eletrobras devem reagir positivamente à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, de revogar ontem à noite a liminar que impedia a realização do leilão de privatização da Companhia Energética de Alagoas (CEAL). Em nota, a estatal afirmou que não há mais óbice (empecilho) para o BNDES retomar o processo de venda da distribuidora.
Tem PIB hoje
Novo governo
Mais uma vez, o presidente eleito Jair Bolsonaro sinalizou que pretende fazer uma proposta mais branda para a Previdência, “porque essa (do Temer) é um pouco agressiva para o trabalhador”. O mercado teme pelo que vem por aí. Também pesa a indefinição da cessão onerosa e o risco de que a União não possa contar com os recursos do leilão do pré‐sal em 2019, se tudo acabar dando errado. São R$ 100 bilhões que devem entrar no caixa. E, finalmente, o investidor não sabe o que esperar do programa de privatização. Enquanto Paulo Guedes monta um “banker” de Chicago Boys, Bolsonaro descarta a venda das estratégicas: Petrobras, Eletrobras, BB e Caixa.
Preocupam também as condições de governabilidade. Enquanto o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni diz que a base de Bolsonaro terá “pelo menos 350 deputados” (em entrevista a Roberto D’Ávila), Paulo Guedes não conseguiu aprovar nem a autonomia do BC.
Câmbio
Traders de câmbio estão intrigados com a pressão persistente do dólar, que voltou a subir ontem (+0,40%), apesar dos três dias de leilões sucessivos de linha, no total de R$ 4,25 bilhões, e da queda lá fora. Entre os motivos cogitados está a Ptax de hoje, para a liquidação dos futuros de dezembro, e a antecipação de remessas de fim de ano, além de saídas dos investidores estrangeiros da bolsa, que continuou este mês.